Ariane Holzbach – aridiniz@gmail.com
No alto dos meus 30 anos, eu devo ser uma das senhoras (!) mais apaixonadas por videoclipe da cultura do entretenimento… Por causa disso, a notícia do fim da MTV Brasil vem abarrotando a timeline do meu Facebook, do Twitter e a minha caixa de e-mails desde a semana passada. Amigos e colegas comentando, um tanto estupefatos, que o primeiro canal jovem do Brasil encerraria suas atividades ainda este ano. Uma certa tristeza aliada a comentários saudosos deram o tom da maior parte dos discursos.
Sim, a MTV Brasil muito provavelmente fechará as portas até dezembro.
Evidentemente, notícias assim sempre são tristes.
Contudo, não vejo muitos motivos para tanta tristeza e muito menos para tanta nostalgia.
Ninguém pode negar que a MTV Brasil teve um importantíssimo papel na popularização de uma série de fenômenos televisivos, de muitos grupos musicais, da cultura jovem/adolescente contemporânea e, claro, da naturalização do videoclipe como algo no mínimo importante no Brasil.

A linguagem do canal musical, a ênfase que ele sempre concedeu à música, seu quê jovialmente irreverente e sua programação sempre em busca do que considerava transgressor (seja lá o que for isso) foram irradiados para outros canais televisivos, para as rádios, filmes, aberturas de telenovelas, peças publicitárias e, lindamente, para olhos e ouvidos de gerações de jovens, como a minha. 😉
MAAAS, analisando o fim da MTV de um ponto de vista amplo, fica claro para mim que, digamos, a MTV Brasil talvez não mais suprisse demandas sociais. Sabe-se que o mundo passa por um imenso processo de reconfiguração em todos – TODOS – os âmbitos sociais. A MTV, acredito, fez parte dessa reconfiguração, mas ao ajudar a construir elementos da (nova?) cultura do entretenimento, acabou embotada pela fórmula que ajudou a consolidar. Isto porque:
O videoclipe, que a MTV Brasil ajudou a solidificar, não precisa mais tanto da TV como já precisou. Ele ganhou independência e hoje está em muitos lugares audiovisuais – a TV, nesse sentido, é apenas um desses lugares.
A programação irreverente e jovial que a MTV Brasil ajudou a solidificar está em outros canais, em outros programas, em outros lugares. Não é mais um diferencial.
A indústria fonográfica – que sempre deu todas as bases possíveis para fazer ser possível um canal musical – está lutando dentro de seu próprio universo e não parece disposta a compor o universo MTV. Ao menos no Brasil.
A audiência – que sempre legitimou o canal – não está exatamente em crise: os jovens nunca consumiram tanto conteúdo audiovisual. No entanto, a MTV Brasil há muito não sabe exatamente qual é a sua audiência e tentou a todo custo correr atrás dela – evidentemente sem sucesso. Programas para pré-adolescentes, para jovens rapazes e para meninas maduras se esqueceram de que, hoje, esse público é absolutamente ciente do que quer consumir. E foge do que não gosta como viciados em internet fogem da conexão por telefone.
MAS ENTÃO POR QUE A MTV BRASIL VAI PRO SACO E A MTV EUA NÃO?
Bem… eis aqui uma falácia. A MTV “convencional” já foi pro saco há muito tempo. Aliás, quando um produto cultural sobrevive tendo em vista o fato de ser inovador não pode, jamais, ser considerado convencional, ou clássico, ou tradicional. Quando isto acontece, é porque o produto já não é mais o que se propôs a ser! Ou pelo menos não é mais compreendido socialmente assim. A MTV “como a conhecemos” (adoro!) não existe mais simplesmente porque não a percebemos mais como inovadora, irrequieta, “jovem” no sentido cultural do termo.
O que existe hoje é uma MARCA MTV que viaja o mundo vendendo um conceito de televisão que ainda faz sentido mas que, todavia, tateia o público diariamente para descobrir como se manter socialmente.  Os canais vinculados à MTV (VH1, MTV Hits, MTV2 e tantos outros), hoje, ainda se prendem de alguma forma à música e à irreverência (este elemento é fundamental!), e acho que é isso que os mantêm vivos socialmente. Mas, se não entenderem seu público, vão pro saco também.
Quer apostar?

Algumas das primeiras transmissões da MTV Brasil. Detalhe para a necessidade da Abril de se conectar ao canal musical. Lembrando que, desde o início, o Grupo Abril detinha os direitos de transmissão da MTV em solo nacional.

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