Pioneira nos estudos brasileiros sobre Death Metal em Angola, Melina Santos, doutoranda do PPGCOM orientada pela Simone Sá, comenta um pouco sobre seu projeto de pesquisa “O Death Metal em Angola” e afirma: ” Eu ouço heavy metal e seus subgêneros desde os 14 anos. E ele acabou se tornando parte de minha vida e do que me transformei.” Ao longo de sua vida acadêmica, percebeu que existem poucos trabalhos sobre death metal, e achou um caminho interessante para seguir.
“Em 2012, eu me deparei com o trailer do documentário Death Metal Angola, e achei o máximo essa questão da apropriação do metal pelos angolanos para narrar seu contexto social e histórico. É mais um caso de interpretação do contexto social e de uma construção da memória coletiva, em torno da guerra civil e de suas consequências, utilizando o metal em si. “
O katingation é um trio da província de Kuando Kubango, e lançou este EP ano passado. No álbum, o ouvinte se depara com elementos da cultura africana, assim como resquícios de sua história. O mais interessante é que, segundo o radialista angolano Antônio Videira, a banda nunca foi vista tocando ao vivo, e sua origem é um mistério para os integrantes da cena.
É comum, atualmente, as críticas sobre o gênero musical envolverem opiniões do tipo “ah, é violento”, “ah, é de mau gosto”, “isso é barulho” etc. Não podemos negar que o metal lida com temáticas “negativas e caóticas”. E, por isso mesmo, tem sido alvo de controvérsias entre grupos religiosos e políticos, desde os anos 1980. Porém, não podemos tomar isso como regra. Há bandas que lidam com essas questões, inclusive para mostrar ‘valores positivos’, do tipo “há jeito”, “tem de reagir”. É necessário compreender os códigos culturais do gênero, e ter a consciência de que as letras, conceitos dos álbuns, etc.
“Acredito mais no metal como um espaço onde os headbangers possam lidar com o ódio, a violência, e demais contextos transgressores, sem, na realidade, tornarem-se transgressores em si. Neste caso, o metal seria mais uma forma de encarar situações extremas, criando sentidos na vida de quem o acompanha. É mais ou menos com essa ideia que gostaria de conduzir a pesquisa. ” Afirma.
Melina está buscando oportunidades para ir a Angola. Dessa maneira, poderá conhecer melhor as bandas e o circuito do metal de lá, além de ter contato com o contexto social e a visão de mundo que eles querem passar através do gênero musical.
“Acho que uma das primeiras coisas que me chamou a atenção foi como a produção do documentário nomeou o movimento musical que está acontecendo por lá: Death Metal Angola. Eu não sei até que ponto existe uma quantidade de bandas de death metal inseridas no local para nomear a cena assim ou se eles fizeram um jogo de palavras com o nome do subgênero. Logo, se seria algo mais ligado ao contexto histórico de produção da sonoridade [morte (death), guerra civil ] somando isso à produção do metal que está surgindo por lá, ou se realmente há uma quantidade de bandas do que é conhecido mundialmente por Death Metal no local. “
Há uma dinâmica entre as bandas, inclusive com integrantes tocando em outros grupos que não sejam os de origem. Isso indica uma união entre as bandas, independente de qual vertente sigam. Atualmente, existem em torno de vinte bandas, que ainda estão investindo nas composições e na produção de EPs. Então é útil ter em mente que é uma cena em construção ainda.