No dia 14 de março, Gustavo Alonso, Candidato à bolsa PAPDRJ , apresentou seu projeto para os
participantes do LabCult e com a proposta de divulgação, estamos aqui antecipadamente tirando possíveis dúvidas sobre esse estudo que, para muitas pessoas com carreira acadêmica ou não, pode ser um tanto excêntrico. Por que, afinal, estudar Música Sertaneja?
Há raríssimos estudos sobre esse gênero, sejam artigos, monografias ou dissertações. Isso acontece pois a academia tem muita dificuldade de fugir do gosto comum entre os acadêmicos. Essa resistência faz com que muitos universitários pesquisem apenas os gêneros que gostam. Inclusive, até pouquíssimo tempo era vergonhoso dizer que se gostava de música sertaneja dentro da academia: não fazia sentido para nossos acadêmicos brasileiros estudar o gênero. Era preferível que eles estudassem a bossa nova, o tropicalismo, a música de protesto, o samba, até o rock… mas a música sertaneja definitivamente não! O grande equívoco desta postura é confundir gosto pessoal e coletivo com objeto de estudo.
Por outro lado é preciso que se diga que nos anos 60 ainda houve algum interesse pela música rural, sobretudo por acadêmicos da USP como Antonio Candido, José de Souza Martins e Waldenyr Caldas. Mas, o ponto de vista destes pensadores dizia que a música sertaneja era: um simples produto da indústria cultural , que alienava a classe trabalhadora (crítica formulada pelo alemão Theodor Adorno) e deturpava das raízes do campo brasileiro. Trata-se, claro, de um ponto de vista muito simplista. A partir deste veredito, houve um silêncio quase combinado sobre o gênero.O mais legal sobre o atual sertanejo não é a “segregação” de subgêneros que ele pode, eventualmente, produzir. O mais interessante são as fusões que ele anda promovendo. Desde 2009 está muito forte o flerte com o axé e com o arrocha e também com o funk. Um exemplo é o vídeo que vocês a baixo do Michel Teló.
2005 é o ano de nascimento do sertanejo universitário. pois foi neste ano que surgiram o Facebook e, no caso do Brasil, o Orkut foi muito importante. Se não houvesse internet possivelmente não teríamos o sertanejo universitário. Embora as gravadoras tenham, desde 2006, entrado gradualmente na distribuição dos discos, foi a capilaridade da internet que ajudou a formar estes artistas. Todo esse contexto fora da rede, suas disputas e tensões, aparecem e são dinamizados no meio digital. Cada vez mais. Então este é o foco do trabalho.
Através das redes sociais os discos, quase sempre gravados de forma tosca, com dois violões e duas vozes, tiveram seu compartilhamento catalisado.O sucesso regional fez unir as cenas antes dispersas e juntar artistas de diversos lugares como Campo Grande, Uberlândia, Goiânia, Curitiba e os interiores destes Estados e mais São Paulo. A vendagem chegou na casa dos 30, 40 mil e começou a chamar a atenção das gravadoras.
Há ainda um longo caminho a ser percorrido para que se possa institucionalizar qualquer coisa sobre os gêneros superpopulares do Brasil, como o funk, o axé, o sertanejo, o arrocha, o vanerão cuiabano, o reggae maranhense, etc.
E como o próprio Gustavo Alonso afirma em seu projeto: “É importante dizer que este projeto insere-se num âmbito maior de estudos, ou seja, no campo da pesquisa os gêneros populares massivos.(…) Ainda é pequeno o grupo de pesquisadores que têm dialogado com esta bibliografia, em especial pela escassez de obras em português. Na UFF vem se destacando o Labcult, do Depto. de Estudos Culturais e Mídia, cujas pesquisas sobretudo em torno funk, do pagode e do forró, especialmente pelos professores Simone Sá e Felipe Trotta, anima a ampliar o escopo da pesquisa do popular massivo e incorporar a análise do atual sertanejo.”