Para ler a primeira e a segunda partes do relato de Melina Santos sobre a sua estadia em Angola, os links estão a baixo:
Do familiar para o não familiar
Neste primeiro contato, percebi que eu era algo exótico ali. Não somente pelo fato de ser de outra nacionalidade, mas por ser ‘mulher’ e conhecer os subgêneros do metal. Cheguei a usar duas camisas de bandas de metal extremo, Obituary e Nevermore, durante os dois dias de festival, e não fui abordada por ninguém para comentar sobre as estampas. Acabei me sentindo estranha, e sem um ponto inicial para estabelecer comunicação com os envolvidos. Cheguei a reconhecer e a comentar sobre a estampa da camisa de dois músicos: do Jayro Cardoso (guitarrista do Dor Fantasma), que usou uma camisa da banda polonesa Vader e outra da banda norueguesa Emperor; do baterista Nick Costa (do Before Crush, Vodka e Still Rolling With Times) que usava uma camisa da banda sueca Katatonia. Fiquei com a impressão de que eles ficaram surpresos quando comentei sobre as estampas. a primeira pessoa que puxou conversa comigo sobre bandas de metal extremo foi o DJ Manel Kavalera. A segunda foi o vocalista do Before Crush, Queirós, o qual também ouvia algumas bandas suecas. Depois, conversei durante a entrevista com os integrantes do Dor Fantasma, Jayro, Pagia e Gildo, e percebemos bandas que ouvíamos em comum.
Percebi o quão presa estive estes anos aos códigos culturais do metal, e como fui conservadora durante todos esses anos seguindo o gênero musical. Isso foi algo que não havia detectado até sair da minha zona de conforto, e me deparar com a complexidade desta cena musical em construção. Há uma dinâmica entre todos os grupos e, pelo fato de terem poucos músicos de rock/metal, os integrantes se revezam em outras bandas. Por exemplo, o Costinha, guitarrista do Before Crush, banda de metalcore, também toca com o Zé Beato, que toca reggae. As fronteiras estilísticas não são delimitadas como em outras cenas musicais. Pelo fato de ainda ser um movimento pequeno, as bandas estão em intensa dinâmica nestes circuitos. Tirando a Dor Fantasma, as outras bandas, inclusive as mais pesadas, não se preocupam em reproduzir os códigos de vestuário do metal. Tanto que, em alguns casos, eu senti este estranhamento ‘visual’. Mas, após ter reconstruído minha própria percepção sobre eu mesma, realmente percebi como estes códigos estão enraizados na minha rotina, e como eu tenho de ser menos ligada a esta normatividade, caso queira pesquisar sobre este movimento musical.
Outra coisa que me chamou a atenção é que as bandas não tocam covers de nenhuma banda internacional. Os shows são compostos apenas de músicas autorais.
Agradecimentos:
Minha aventura em Angola não teria acontecido sem a ajuda de: a) Minha mamãe, Denilza, por todo o suporte e pensamentos positivos; b) Sonia Ferreira (ONG Okutiuka), e Antonio Videira (rádio LAC), mais conhecido como O Toke É Esse, os quais negociaram todo o drama do meu visto para entrada no país rs. E, por terem acreditado na pesquisa dessa bolsista da UFF, pela hospitalidade e pelo carinho dados na minha passagem-relâmpago; c) Minha orientadora, Simone Pereira de Sá, e o professor Marco Roxo (PPGCOM-UFF), pelo apoio em todos os sentidos.
Também queria agradecer aos integrantes das bandas e da cena, que consegui entrevistar nesta primeira fase.Mas, principalmente por terem compartilhado – na correria – suas visões de mundo, e aguentado minha chuva de perguntas o tempo todo: Anderson Gavião; Cláudio Henriques; Costinha Cassoma; Gildo Lancelot; Jayro Cardoso; Manel Kavalera; Queirós Ladino; Pagia; Wilker Flores; Wilson Pipas; Yuri Almeida; Yvanov Guardado.
Um alô para o Tuchometal e o Tiago pelas conversas relâmpago nos bastidores. Outro alô para os integrantes das bandas que não consegui entrevistar, mas que enchi a paciência via redes sociais para completar a resenha: Angela Ferreira; Bona Sky; Jhonny Adalberto; Nick Costa; Rodney Francisco; Paulo Fernandes.
Keep moshing! In Angola! In Brazil! Everywhere! \m/