O Post de hoje do LabCult é sobre a pesquisa de Henrique Ramos Reichelt.
Henrique discute cenas de Tchê Music além do regional e a industria da musica ao vivo, a partir das novas formas de mediação dos gêneros musicais.
Confira abaixo nossa pequena entrevista com o pesquisador e entenda melhor sobre esse gênero musical nacional.
Partindo do principio básico, o que você identifica como Tchê Music? Quais são as características que marcam o estilo? Pode dar exemplos de alguns artistas?
Tchê Music é um gênero musical que se desenvolveu ao longo dos anos 90. O estilo se caracteriza por uma ampla mistura da música regional gaúcha com outros gêneros como o axé, pagode, rock, entre outros. As principais bandas são Tchê Barbaridade, Tchê Garotos, Tchê Guri e Garotos de Ouro.
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Por que o interesse em estudar o gênero?
A música gaúcha sempre despertou a minha curiosidade, pois, apesar de ser nascido e criado no RS, nunca tive um contato de maior profundida com essa vertente. A Tchê Music me interessa em especial porque não há estudos específicos sobre o gênero e porque ela provoca muitas discussões sobre identidade e autenticidade. Além disso, como muitos dos novos gêneros periféricos brasileiros, ela funciona através de novas estratégias e modelos de negócio na música, área a qual me dediquei no mestrado.
Sobre o publico do Tchê Music, existe alguma caracteristica que ajude a identificar esse nicho? (idade, profissão, genero, lugar que frequenta. etc)
O público da Tchê Music é sem dúvida um público jovem que busca diversão aliada a identidade regional. Arrisco dizer que, como a maior parte dos locais de apresentação das bandas do gênero se encontram geograficamente na periferia de grandes e pequenos centros urbanos, esses jovens pertencem em sua maioria a classe populares e integram famílias que ou migraram do campo para a cidade, ou mantém algum contato com o universo rural.
O Tchê Music atua além do sul do Brasil? Existe publico para isso?
A atuação das bandas de tchê Music se concentra nos 3 estados do sul, mas não se restringe a eles. Diria que estados como São Paulo, Mato Grosso e Matogrosso do Sul, ocasionalmente recebem shows do estilo. Nos demais estados a presença das bandas é rara. Sendo assim, no sul o público do gênero é extenso, fora dele não.
No seu trabalho você diz que ocorreu um processo de hibridização do gênero, de uns anos pra cá. Levando em conta esse processo, quais pontos você considera negativos e quais considera positivos como consequencia dessa transformação? Com a globalização do gênero, como você o vê daqui a alguns anos ? Acha que ainda terá mercado ou será engolido pelas novas tendências?
A hibridização é a principal marca do gênero, é o que o define enquanto tal. A intensificação da mistura de estilos acabou distanciando as bandas dos circuitos mais tradicionais de música gaúcha, o que pode ser visto como um ponto negativo. Por outro lado, a mesma mistura ampliou o leque de opções das bandas que passaram a tocar em outros espaços como boates, por exemplo.
Atualmente, com a explosão do Sertanejo Universitário, muitas das bandas de Tchê Music estão deixando a temática regional de lado para se inserir nesse circuito já que ambos os gêneros são bastante próximos: a hibridização também é uma marca do Sertanejo Universitário; os instrumentos utilizados pelas bandas são praticamente os mesmos; as roupas usadas pelos artistas são parecidas. Além disso, outras bandas estão fazendo o movimento contrário. Reforçando a temática regional para poder voltar a tocar nos espaços tradicionais. Consequentemente, o gênero passa por um momento de desarticulação e esvaziamento, mas acredito que ele possa voltar com força no futuro.

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